quarta-feira, 15 de maio de 2013

Reflexões #002 >>> Uma leitura da "nova história do tempo"


Minha leitura do interessante livro "Uma nova história do tempo, de Stephen Hawking e Leonard Mlodinow"
por Ricardo de O. Figueiredo, Maio de 2013

Nesse livro os autores pensando sobre o universo levantam perguntas tais como: De onde veio o universo? Para onde está indo? Qual a natureza do tempo?  Com vários argumentos com base nos recentes avanços da Física até os nossos dias, os autores sugerem respostas a estas perguntas.

Stephen Hawking é um cientista muito conceituado, sendo doutor em cosmologia e um dos mais consagrados físicos teóricos do mundo. Junto, com o co-autor Leonard Mlodinow, também catedrático em Física, diz que "hoje, estamos mais perto que nunca de entender a natureza do universo".

Bem, diante disso nossa expectativa é a de sabermos quais as certezas e pistas que temos acerca dessas questões sobre a origem de todas as coisas que nos cercam, já que é um livro destinado a leigos em Física. Certo?

Mas ao longo da leitura nos deparamos com várias dúvidas. Vamos refletir sobre algumas então.

É interessante ver que os autores reconhecem que em algum dia as respostas que hoje temos poderão parecer tão óbvias para nós quanto a Terra orbitando o Sol, ou, quem sabe, tão ridículas quanto a teoria de uma torre infinita de tartarugas que sustentam uma Terra plana. Então, cabe a pergunta: Por que nos apoiarmos tanto nessas respostas, se estas podem não ter absolutamente nada a ver com a realidade? Por que ridicularizar aqueles que não conhecem ou discordam dessas teorias?

Hawking e Mlodinow, após discorrerem brevemente sobre o conhecimento dos gregos antigos em relação a representação do universo, e em seguida sobre os pensamentos de Copérnico, Kepler e Galileu, nos conduzem até os tempos de Newton quando este afirmava que suas leis eram aplicáveis a tudo no universo: de uma maçã em queda às estrelas e planetas.  Foi o princípio da física e da astronomia modernas, quando em sua teoria da gravidade em um simples modelo, Newton prevê os movimentos do Sol, da Lua e dos Planetas com um alto grau de precisão.

Os autores honestamente alertam: "Qualquer teoria física é sempre provisória, no sentido de ser apenas uma hipótese: nunca é possível prová-la". Você sabia disso? Quando você é questionado por materialistas que você não pode provar a existência de Deus, não lhe parece que por trás disso está a insinuação de que teorias científicas, ao contrário, apresentam provas incontestáveis de suas premissas?

Pois bem, como dizem os autores, "você pode desacreditar uma teoria encontrando uma única observação que seja discordante de suas previsões". Faça uma observação científica discordante de determinada teoria, e esta teoria deverá ser abandonada ou modificada. É por isso, que muitas teorias sofrem constantes modificações ao longo da história da ciência, principalmente se os cientistas que a proclamam não querem abandoná-las. Se a teoria não é boa, sofrerá inúmeras modificações com o tempo. Isso pode ser um termômetro para distinguir entre teorias boas e ruins. Fique atento!

Ponto central na discussão apresentada nesse livro é de que o objetivo final da ciência é oferecer uma teoria unificada que descreva o universo inteiro. Mas na verdade, esse problema em geral é dividido em duas partes: 1) Leis que informam como o universo se altera com o tempo; 2) O estado inicial do universo.

Os conceituados cientistas, no entanto, reconhecem que é muito difícil inventar uma teoria que descreva o universo de uma só vez.  Aqui se reconhece a imensidão do desafio de descrever-se um universo extremamente imenso e complexo, e a limitação do conhecimento humano. Não lhe parece que a impressão que fica nas notícias sobre a ampliação do conhecimento científico é a de que tem-se conhecimento firme e profundo de muitas coisas relacionadas ao início e funcionamento do universo? Como você pode ver, a coisa não é bem assim...

Para solução do problema de se ter um teoria única para o universo surge a estratégia de decompo-la em partes, e assim inventam-se teorias parciais.  É o que nos diz os autores. Assim sendo, somos informados de que hoje os cientistas descrevem o universo em termos de duas teorias básicas - a teoria da relatividade geral e a mecânica quântica. Estarão essas teorias tão desenvolvidas quanto nos parece, dado as informações que acessamos nas nossas mídias do Século XXI?

Pois bem, saiba que os autores nos informam que essas duas teorias são incompatíveis! Por isso busca-se uma nova teoria que compatibilize as duas: a teoria quântica da gravidade. E ainda estamos engatinhando nessa teoria.

Diante da grave crise ambiental que hoje vivemos, assim como a possibilidade de imensos acidentes cósmicos a que estamos sujeitos, os autores não apontam qualquer esperança, mas apenas dizem: "É bem possível que nossas descobertas científicas destruam a todos nós, e mesmo que não o façam, uma teoria unificada completa poderá não fazer grande diferença para as nossas chances de sobrevivência". Pergunto eu: Será que é por isso que a humanidade busca salvação nas religiões? Pois a ciência parece não ter qualquer possibilidade de oferecer tal coisa.

Nesse ponto, os autores reconhecem o ponto nevrálgico de toda a questão abordada: "Ansiamos por uma compreensão da ordem subjacente no mundo. Almejamos saber porque estamos aqui e de onde viemos".  Então pergunto: Por que buscar tais respostas em fonte que não a possui, e não em fonte externa a esse mundo natural / físico? O que estaria errado nisso, já que a ciência conhece seus limites nessa questão?  Por que em nome da ciência a postura por uma resposta metafísica é tão depreciada? Seria uma intolerância materialista?

Penso, que a ciência tem promovido inúmeros benefícios reais para a humanidade. No entanto, as  benesses palpáveis não ficaram na teoria. Por exemplo, remédios e vacinas que hoje beneficiam a nossa saúde são amplamente recomendados apenas após o benefício de seu uso ter sido comprovado pela experiência prática curando ou aliviando doenças, e não apenas porque teoricamente deveriam faze-lo.  As teorias científicas por trás desses medicamentos estão assim comprovadas. Mas na área do conhecimento da origem e propósito da existência do universo e todas as coisas tal comprovação é apoiada apenas por uma "outra teoria" ou pressuposição. Hoje admite-se, em geral, apenas a pressuposição de que não existe Deus, e a partir dessa teoria constroem-se outras.

Outrora, como os próprios autores descrevem, o cientista admitia respostas em Deus.  Por exemplo: Newton se preocupou bastante com a falta de um "espaço absoluto",  porque isso não estava de acordo com sua idéia de um Deus absoluto. Hoje em dia, no entanto, considerar a possibilidade de Deus em nossas concepções sobre o universo são "malditas" em grande parte do mundo científico. Seria uma intolerância materialista?

A teoria da relatividade, concebida por Einstein, surge para sustentar a ideia de que o tempo e o espaço não são independentes e nem estão inteiramente separados, mas combinados, formando o objeto espaço-tempo. Isso me faz refletir sobre o quanto a realidade é bem mais complexa do que nossos sentidos naturais nos permitem experimentar. Existem mistérios no ar, na vida, na existência, no universo. Veja que a relatividade levou anos para se tornar universalmente aceita pelos físicos.

Nessa nova perspectiva de universo, e seus processos associados, encontram-se hoje os cientistas. Dessa maneira, dizem os autores, "a velha ideia de um universo essencialmente inalterado que poderia ter existido desde sempre, e que poderia continuar a existir para sempre, foi substituída pela noção de um universo dinâmico, em expansão,  que parecia ter começado há um tempo finito e que poderia terminar num tempo finito futuro".  Opa, a idéia de um princípio e fim do universo é agora balizada por conclusões da ciência!

Por vezes, os autores do livro falam de suas crenças. Sim, crenças. É o que vemos em trechos como: "NÃO TEMOS EVIDÊNCIA CIENTÍFICA alguma a favor ou contra essa segunda premissa. Séculos atrás, a Igreja teria considerado a premissa (de Friedmann) uma heresia, já que a doutrina da Igreja declarava que realmente ocupamos um lugar especial no centro do universo. Hoje, porém, ACREDITAMOS na premissa de Friedmann por uma razão quase oposta, uma espécie de modéstia: TEMOS A IMPRESSÃO DE QUE SERIA MUITO ESTRANHO se o universo parecesse o mesmo em todas as direções ao nosso redor, mas não ao redor de outros pontos do universo."

Gostaria de entender esta "espécie de modéstia" desses colegas cientistas. Estes entendem por modéstia, desprezar a possibilidade de um Deus criador ter-nos dado um lugar especial em todo o universo, e considerar-se como seres que atingiram um grau de evolução que hoje os capacita a entenderem plenamente a razão de tudo o que existe independente de qualquer ser superior.  A verdadeira humildade é assim acobertada, que lástima!  Não estou aqui dizendo que o nosso planeta seja o centro de todo o universo, mas apenas reconhecendo que se alguém pensa que Deus teve um propósito especial em nos criar e colocar em determinado ponto do universo, isso é uma posição de reconhecer a grandeza de alguém infinitamente maior, ou seja, um sentimento de humildade verdadeira.

Veja também que no trecho analisado, emoções são apontadas como fundamentos para embasamento de pressuposições, que "na teoria", deveriam ser isentas de sentimentos. Sim, os autores "tem a impressão de que seria muito estranho se...". Bem, o que parece é que quando não há evidência científica fica valendo a crença e a impressão. Ai, ai, ai... Aqui os grandes sábios tropeçam feio.

Mas existem grandes avanços tecnológicos, como citam os autores, que tem permitido que se observe e aprenda rapidamente novos e surpreendentes fatos sobre o universo. Estou plenamente de acordo!

Porém, quando passa-se do observável para o especulativo tenho sérias dificuldades para encontrar evidências e embasamento racional. Pois vejam que os autores se aventuram e afirmam categoricamente que: "O universo continuará a se expandir numa taxa sempre crescente. O tempo continuará para sempre pelo menos para aqueles prudentes o bastante para não cairem num buraco negro".  Na minha modéstia poderia dizer que isso me soa mais como profecia mística.  Mas posso estar errado, caro leitor.  Quem sabe esta não é também  uma teoria equivocada a ser contestada por um novo modelo científico do universo que será defendido por uma nova teoria alternativa? Portanto, sugeriria aos colegas cientistas que não fossem tão pretensiosos nesse tipo de afirmação.

O tema tratado é bem ousado. Outras perguntas são postas pelos autores: "E quanto aos tempos muito primitivos? Como o universo começou e o que o colocou em expansão?"

Dentre as teorias da cosmologia a mais popular e aceita hoje é o Big Bang. Aqui os autores baixam a bola sabiamente e dizem: "... se conhecêssemos apenas o que aconteceu desde o Big Bang, não poderíamos determinar o que aconteceu antes... questões como quem armou as condições para o Big Bang não são questões abordadas pela ciência". Que bom, assim os autores reconhecem que existe algo a ser compreendido e entendido que está além da ciência. Seria o conhecimento de Deus revelado de alguma maneira aos seres humanos? Fica a pergunta.

Pois é, os autores chegam a explicitar tal coisa quando dizem: "Seria muito difícil explicar porque o universo deveria ter começado exatamente dessa maneira (Big Bang), exceto como um ato de um Deus que pretendia criar seres como nós".  Mas porque será que tal conjectura desses renomados cientistas não alcançam a mesma divulgação que outras conjecturas e teorias proclamadas pelos mesmos?

No frigir dos ovos, Hawking e o co-autor, resumem que: "O século XX viu transformada a visão de mundo do homem: percebemos a insignificância do nosso próprio planeta na vastidão do universo e descobrimos que o tempo e o espaço são curvos e inseparáveis, que o universo estava se expandindo e que teve um começo no tempo".  Não é interessante que tal constatação imensidão do cosmos não tenha feito a humanidade aproximar-se ainda mais da visão de mundo judaico-cristã de que há um Deus todo poderoso, criador de céus e terra, que determinou um genêse de tudo que existe, e que diz que "tudo o que é, já foi, e tudo o que vem, também já foi"?

Mas como a relatividade geral é uma teoria incompleta e a mecânica quântica também é uma teoria parcial, os autores revelam que há uma ESPERANÇA na ciência de obter-se uma compreensão total do universo do início ao fim, que surge da combinação dessas duas teorias parciais em uma única teoria quântica da gravidade, uma teoria na qual as leis comuns da ciência são válidas em qualquer lugar, inclusive no início do tempo, sem a necessidade de singularidades, isto é, quando um ponto onde a teoria falha e torna-se necessário predizer-se condições diferentes para ele. 

Não sei se nossos físicos chegarão a esta teoria unificada de universo, e que esta corresponda a realidade das coisas e possa nunca ser refutada, mas pode-se pensar que essa ESPERANÇA tem um certo ar metafísico.  O mesmo ar "religioso" olhado com desdém por muitos cientistas.

No entanto, os autores insistem que utilizam a "navalha de Occam", extirpando das teorias todas as suas características que não possam ser observadas. Mas pelo que já comentado acima parece que nem sempre tal navalha é manuseada.

É interessante pontuarmos aqui o comentário dos autores sobre Einstein e a questão da casualidade. A mecânica quântica, desenvolvida por ele, introduz a aleatoriedade nos modelos científicos, no entanto, Einstein discordava disso veementemente. Sua frase "Deus não joga dados" foi dita neste contexto. Ele nunca aceitou que o universo fosse governado pela casualidade. Então, pergunto de novo: Encontramos o eco dessas palavras quando toma-se a mecânica quântica para explicar o universo?

Lendo esse livro acabo por concluir que o grande desejo do cientista ateu é a vitória de uma teoria que descreva o universo como "inteiramente autocontido e não afetado por nada fora dele, que assim não seria criado nem destruído, mas apenas SERIA". Como dizem os autores, isso dispensaria a necessidade de um criador.

Em dado momento, os autores elucubram o poder "determinístico" de uma teoria unificada e completa. Eles dizem: "se realmente existir uma teoria completa da física que governa tudo, ela também presumivelmente governará as suas ações".  O que é isso? Escaparíamos do pensamento de que há um Deus que a tudo governa mas nos convida a escolher o bem, para sermos dominados por leis deterministas e frias? Que cilada para os que rejeitam preceitos  religiosos!

Fato é que os brilhantes autores desse livro, por fim, revelam coisas muito interessantes, a saber: "É extraordinário como o tamanho das cargas de elétrons e a razão entre as massas de próton e do elétron, por exemplo, parecem ter passado por um ajuste muito fino para possibilitar o desenvolvimento da vida. Se assim não fosse, ocorreria desequilíbrio da força eletromagnética e gravitacional nas estrelas, inviabilizando a vida".

Finalmente, os autores postulam três possibilidades para uma resposta acerca da representação do universo: "1) Existe uma teoria unificada completa, que um dia descobriremos; 2) Não existe uma teoria definitiva, mas uma sequência infinita de teorias, com precisão cada vez maior, mas nunca exatas; 3) Não existe uma teoria, tudo ocorre de forma aleatória e arbitrária".

Interessante é que a terceira possibilidade é descartada simplesmente porque haveria a necessidade de existir um Deus. Veja que não penso que "tudo ocorra de forma aleatória e arbitrária". Mas não podemos descartar a existência de Deus nem mesmo para as outras duas possibilidades, mas nelas Deus não seria essencial, por isso são mantidas como possíveis. Aqui constata-se que a pressuposição da existência de um Deus é necessariamente descartada nos tempos modernos, como dizem os autores. Pergunto: Por que uma pressuposição oposta (Não há Deus) não poderia ser descartada? Qual a razão disto? Existe honestidade de princípios nesta escolha? Eliminaria a possibilidade de chegar-se a um modelo de universo?

Penso que falta ressaltar na comunicação científica o que os autores em dado momento comentam: "Nunca poderíamos ter certeza absoluta de que descobrimos de fato a teoria correta, já que as teorias não podem ser demonstradas". O máximo que se pode almejar é que "uma confiança razoável" de que dada teoria é correta. Pergunto: E se tal confiança razoável apontasse para a necessidade de um Deus, caso a hipótese de sua existência fosse igualmente testada por método científico?

Veja que "ninguém pode resolver com exatidão as equações quânticas para um átomo que é formado por um núcleo e mais de um único elétron. Não somos sequer capazes de resolver com exatidão o movimento de três corpos numa teoria simples como a da gravitação de Newton", conforme nos diz Hawking.  Embora tal fato seja reconhecido pelos autores, as pretensões são bem elevadas. Os cientistas possuem uma meta que se resume na "compreensão total dos eventos que nos cercam e da nossa própria existência". E por fim, dizem que "se encontrarmos uma resposta... seria o triunfo último da razão humana - porque, então, conheceríamos a mente de Deus".

Aqui fica evidente a ignorância espiritual de grandes sábios e detentores do conhecimento científico. Se conhecermos a mente de um Deus, que seja realmente DEUS na essência máxima dessa palavra, é porque nos tornamos também deuses. Ou será que a formiguinha poderia entender nossos pensamentos, sentimentos e escolhas, sem se tornar um humano?

Trabalho em pesquisa científica no setor agrícola, que lida com o funcionamento dos ecossistemas em relação ao ciclo da água e dos nutrientes, visando entender e evitar as alterações antrópicas sobre esses processos naturais, portanto, dou grande valor ao conhecimento científico. Mas daí a meter o bedelho em questões que estão além do plano natural, acredito que há uma barreira intransponível. É o que penso!

Adicionalmente, para elevar intelectualmente a discussão pretendida, gostaria de repetir aqui algumas palavras de C.S.Lewis (1898-1963), conceituado escritor e intelectual irlandês, professor de renome da Universidade de Oxford e da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, que ainda em 1940 em seu livro "O problema do sofrimento", muito antenado com o progresso da ciência, comentou:  "... A ciência moderna está nos ensinando lentamente a suportar neste Universo voluntarioso sua natureza aparentemente arbitrária e idiossincrática onde a energia é constituída de partículas em quantidade que ninguém poderia prever, a velocidade não é ilimitada, a entropia irreversível confere ao tempo uma direção real e o cosmos, não mais estável mas cíclico, se desenrola como uma peça de teatro, tendo começo e fins reais. Se qualquer mensagem advinda do cerne da realidade um dia chegasse a nós, deveríamos esperar encontrar nela apenas aquela natureza inesperada, aquela sinuosidade obstinada e dramática que encontramos na fé cristã. Ela tem o toque de mestre - a experiência forte e viril da realidade que não foi criada por nós nem, de fato, para nós, mas que nos golpeia no rosto".